Convergência Procedimental
(2020)
[Álbum musical]
Vitor Kisil
I. Do Registro: sobre sons de uma maçaneta e um regador [12m29s]
II. Da Performance: Desato Instrumental – sobre dois improvisos em instrumentos feitos com arames [14m06s]
III. Da Escrita: Moto Perpetuo – sobre uma partitura de quarteto de cordas com a incorporação do meio digital como quinta voz [7m51s]
O álbum “Convergência Procedimental” traz três peças bastante distintas entre si, tanto em relação aos materiais sonoros quanto aos seus procedimentos técnicos. No entanto, estes distintos procedimentos de criação – que venho estudando nas últimas décadas – convergem neste caso para estruturas musicais que compartilham uma mesma intencionalidade composicional e uma proposta similar de experimentação da temporalidade musical.
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Os sons se transformam continuamente e estimulam um diálogo com as memórias do ouvinte. Tanto a memória recente incitada por estes sons em constante mutação como também as memórias avivadas pela caçada constante de nossa consciência pela racionalização e verbalização das experiências do real.
Este é o principal motivo dos nomes das peças serem primariamente descritores técnicos dos processos de criação e não indutores a interpretações programáticas. Busco com isso deixar livre o espaço para que a mente do ouvinte vá para onde se sentir melhor identificada.
A peça “Do Registro: sobre sons de uma maçaneta e um regador” utiliza materiais sonoros que captei com um gravador portátil e um captador humbucker – desenvolvido pelo artista Paulo Nenflidio – entre dezembro de 2018 e janeiro de 2019. São sons captados de um sistema mecânico de uma maçaneta enferrujada de uma porta em Ubatuba-SP e sons de um regador metálico tocado como um instrumento de percussão em São Paulo-SP. Praticamente todos os sons escutados – com exceção de um piano que aparece discretamente no final – são resultados da edição e processamento digital dessas únicas gravações.
A segunda peça, “Da Performance: Desato Instrumental – sobre dois improvisos em instrumentos feitos com arames” é um desdobramento da peça e instalação sonora “Desato Instrumental” que desenvolvi em 2018 para o evento “Som Na Laje” e que envolve um instrumento acústico que criei utilizando uma calha de metal e cordas de arame. Para essa peça, realizei a gravação de um improviso tocando este e outro instrumento experimental - também feito com cordas de arame - e também manipulando sistemas musicais interativos – como vim me especializando nos últimos 15 anos. Em seguida realizei outro improviso seguindo a mesma estrutura, mas em sobreposição ao improviso anterior. Todos os sons, portanto, são derivados dos instrumentos acústicos tratados em tempo real nos sistemas digitais.
Por fim, em “Da Escrita: Moto Perpetuo – sobre uma partitura de quarteto de cordas com a incorporação do meio digital como quinta voz”, parto da partitura para quarteto de cordas “Moto Perpetuo” que compus em 2015. Resolvi fazer uma versão da peça para sons eletrônicos e resolvi durante o processo incorporar o próprio meio digital como uma quinta voz. Parto de sons extremamente transparentes que realizam a partitura original e aos poucos os processos digitais vão imprimindo suas características aos sons musicais criando um contraponto entre notas e timbres e entre sons harmônicos e ruídos digitais.
O convite que faço ao ouvinte é para que procure simplesmente aproveitar a experiência estética – preferencialmente com calma, tempo e concentração (pedido que nos dias atuais é muito mais profundo do que o de bens e riquezas) – e não se preocupe demasiadamente com a racionalização desta experiência. É apenas uma sugestão.
Agradeço profundamente ao selo Al Revés pelo convite, em especial a Bruno Hiss e Alexandre Marino. Sem vosso convite essas músicas não teriam sido feitas. Ao menos não da forma como foram. Agradeço também Bel, Carolina e João por convergirem na gente.
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Para ouvir:
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https://alreves.bandcamp.com/album/converg-ncia-procedimental
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http://alreves.org/releases/alr42
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